
Jean-Philippe Deterville – Grande Mestre Emérito da jurisdição de língua italiana
A Cavalaria é a aventura eterna que conduz o homem à própria conquista – à descoberta de si. Ela nasceu do encontro entre a Força e o Sagrado; a Potência e a Sabedoria.
O próprio ideal da Cavalaria se exprime com a aceitação de uma regra de vida ou de conduta que certamente se manifesta através de certas qualidades ou valores universais, como o espírito cavalheiresco, mas também com a honestidade, a coragem, o orgulho, a perseverança, a tolerância e a capacidade de perdoar.
Mas voltemos a falar sobre a palavra” cavalaria”. A sua etimologia nos lembra naturalmente a palavra “cavalo”. Em geral, o cavaleiro é o mestre da sua cavalgada. O cavalo encarna, aqui, o Eu objetivo e limitado do ser humano, as forças elementares e vitais, instintos e paixões que o cavaleiro deve dominar se quiser atingir o seu objetivo.
Como o cavalo é a conquista mais bonita do homem exterior, parece lógico e necessário que o homem interior vá à própria conquista e aprenda a dominar a sua natureza inferior para torná-la sua amiga.
O cavaleiro é aquele que leva a espada e é o seu guardião. A espada permite que o cavaleiro se liberte da ignorância e conquiste o conhecimento. É, por excelência, a arma do Conhecimento e dos combates espirituais. Assim para o iniciado, a boa conduta do cavaleiro se situa, com toda certeza, entre a Lei e a Espada. A espada nos ensina que, sem discernimento e o desapego necessário, a nossa busca é vã e inútil.
O Manto místico isola o cavaleiro com as suas dobras protetoras e o protege dos ataques do mundo profano. Vestir o manto significa escolher a Sabedoria a alcançar todos aqueles que trabalham para a regeneração da humanidade sofrida. Esse gesto simboliza também o retiro em si mesmo e a renúncia aos instintos mais baixos. O cinto e o cordão marcam o cavaleiro com o selo da fraternidade.
Ninguém poderia ignorar o papel importante que teve a Cavalaria no curso da História. A Cavalaria tem as suas raízes na eternidade. Pelo seu espirito e sua ética, ela constitui um excelente exemplo de como pode e deveria ser o nosso comportamento a cada dia. Quanto à rosa, associada ao Cavaleiro da Rosa, certamente é o símbolo mais bonito que se pode escolher para caracterizar a iniciação em toda a sua plenitude.
Hoje, mais do que nunca, o espírito da Cavalaria está presente e é indispensável para o futuro da humanidade. Como buscadores místicos, não importa saber detalhes da história desta ou daquela corrente de Cavalaria. O que precisamos aprender dessas ordens do passado é que permitiram o aparecimento do ideal do cavaleiro místico a serviço não mais do homem, mas do divino. É por isso que o lema desses cavaleiros era “Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini tuo da gloriam”. (Não a nós, Senhor, não a nós, mas somente para glória do teu nome”). Essa invocação descreve a aliança do cavaleiro com o plano divino.
Honoráveis buscadores, a cavalaria mística encontra-se na origem da cavalaria histórica, pois o espírito antecede sempre a manifestação, assim como a essência precede a forma e o pensamento a ação. Nesse sentido, há, sem dúvida, uma ligação espiritual que une a lendária Cavalaria da Távola Redonda à cavalaria histórica, ligação que existe além do tempo e do espaço.
A lenda da Cavalaria, com seu simbolismo, oferece uma melhor compreensão e aproximação do estado de cavalaria mística. Meditando sobre esses símbolos e sobre esses expostos alegóricos e iniciáticos da busca desses cavaleiros da lenda, um jovem rosacruz pode compreender e viver plenamente aquilo que compõe a força e a beleza do ideal e que o leva a transcender suas imperfeições e expressar sua verdadeira natureza. De acordo com um romance atual, um cavaleiro errante cavalga armado, em busca de aventuras. Entra em uma floresta, onde luta com um dragão, e sai vencedor. O dragão simboliza os quatro elementos da matéria através dos quais nos movemos e por meio dos quais temos que tomar consciência da nossa verdadeira natureza. Ele cospe o elemento Fogo, suas asas simbolizam o elemento Água e ele vive em uma caverna no seio da Terra. É claro que o cavaleiro deve vencer, ou seja, domar, e não matar o dragão que está nele. Dito de outra forma, deve usar essa energia negativa para transformá-la em energia positiva e usá-la a serviço do bem.
O objetivo dos Cavaleiros da Távola Redonda – a busca pela qual tinham que se oferecer a todos os perigos e sacrifícios – é o Graal. A busca do Graal é a aventura espiritual por excelência, a qual exige uma transformação radical de mente e coração – a transmutação total do ser. O Graal é o cálice sagrado que satisfaz a sede espiritual – a taça sacrificial contendo a bebida da imortalidade, a encarnação da Sabedoria Cósmica, o Segredo dos Segredos. Por isso, não deve ser buscado no plano físico. Na verdade, é o resultado final, a coroação da busca cavalheiresca, e simboliza a plenitude interior que os homens sempre procuraram. Manifesta um plano de consciência, um nível vibratório, que é o da realização – do domínio espiritual.
Jovens buscadores, o ideal da Cavalaria está enraizado no coração do homem. Jesus, assim como os outros Mestres, com seus sacrifícios, contribuiu para o desenvolvimento do espírito da Cavalaria. Isso significa, em termos gerais, que o cavaleiro místico está em busca do Cristo Cósmico – o Cristo que está em cada um de nós. Portanto, cada membro da OGG deve continuar a ser simples e de bom coração. Mas somente pode ser bom e misericordioso quem tem a Força que gera o Amor verdadeiro. Não é a espada que faz o cavaleiro, mas as provações da vida que ele sofre e domina, o trabalho sobre si mesmo e a consagração de sua vida à preservação da bondade, do amor, da paz e da justiça.
Fonte: Deterville, Jean-Philippe. Unidade, Ética e Espiritualidade. 1ª edição. 2015. Biblioteca Rosacruz – AMORC, GLP. (Adaptação: ML)