A Ordem dos Cavaleiros Templários
Otávio Luiz Vieira Pinto
Os Templários formavam a mais famosa ordem militar da Idade Média. Popularizados em filmes como “Indiana Jones e a Última Cruzada” (Indiana Jones and the Last Crusade, 1989) e “Cruzada” (Kingdom of Heaven, 2005), eram reconhecidos pelas longas túnicas brancas marcadas pelo símbolo de uma cruz vermelha e pela fé com que cavalgavam para as batalhas. Mas, além de todas as imagens e mitos, quem foram os Templários?
Na virada do primeiro milênio depois de Cristo, locais sagrados para os cristãos, como a cidade de Jerusalém, estavam sob o domínio de muçulmanos. Movido por este fato e outras diversas questões políticas, o Papa Urbano II se dirigiu aos cristãos em toda a Europa e convocou todos os barões e cavaleiros para uma “guerra santa”, que, na verdade, foi uma campanha militar para conquistar os territórios considerados sagrados para o cristianismo.
Assim, em 1095 um exército cruzado partiu em direção ao Oriente e, em 1099, adentrou Jerusalém. Com isso, iniciou-se um longo período de presença europeia no Oriente Médio e de conflitos pelo domínio da região. Com a instabilidade militar e religiosa, peregrinos que desejavam visitar a Terra Santa corriam muitos riscos, até que, em 1119, o cavaleiro Hugo de Payens decidiu fundar uma ordem monástica destinada à proteção destes peregrinos. Ele iniciou sua Ordem Templária com aproximadamente nove outros cavaleiros e a eles foi dado um quartel general situado em Jerusalém no Monte do Templo – por ser considerado o local onde o famoso Templo de Salomão estava, e por serem monges com voto de pobreza, os Templários ficaram conhecidos como a “Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão”.




Com o passar dos anos, a Ordem dos Templários foi se tornando cada vez mais rica e poderosa, multiplicando o número de cavaleiros e aumentando sua influência por todos os territórios dominados pelos cruzados. Com tamanho poder, os Templários passaram a atuar também na administração daquele contexto, e assim ofereciam serviços, por exemplo, para cuidar das riquezas e bens de nobres que decidissem participar das cruzadas, em troca de doações para a Ordem.
No início dos anos 1300, porém, a presença europeia no Oriente Médio já havia quase desaparecido e a atividade dos Templários tornara-se quase que exclusivamente administrativa e bancária. Estavam espalhados por todo o ocidente e não eram mais limitados apenas à Terra Santa. Por ser, em sua origem, uma ordem religiosa independente e dotada de tanto poder e dinheiro, os Templários passaram cada vez mais a chamar a atenção dos reis e do Papa.
Em 1307, o Grão Mestre da Ordem, Jacques de Molay, foi convidado à França pelo Papa Clemente V. O rei francês, Filipe IV (conhecido como Filipe, o Belo), que devia grandes quantias para os Templários, devido a um empréstimo destes para que ele fizesse guerra contra a Inglaterra, aproveitou a oportunidade e pressionou o Papa a mover uma investigação contra a Ordem, acusando-os de graves crimes para a época, como a negação de Jesus Cristo, idolatria, heresia, fraude e corrupção financeira. Não se sabe se estas acusações eram ou não verdadeiras, mas no dia 13 de outubro de 1307, uma sexta-feira, os Templários foram considerados culpados e, consequentemente, presos. Nos anos seguintes, Cavaleiros da Ordem foram interrogados e torturados, até que, em 1310, muitos foram queimados em fogueiras públicas em Paris. O Grão Mestre, Jacques de Molay, também foi queimado vivo em março de 1314, lançando uma “maldição” contra Filipe IV e Clemente V: “Deus sabe quem é errado e pecou. Logo, uma calamidade cairá sobre aqueles que nos condenaram à morte”. Curiosamente, tanto o rei quanto o Papa morreram ainda naquele ano, como profetizara de Molay.
Apesar de cercados de mitos e histórias fantásticas, a Ordem dos Templários foi um grande exemplo de como, na Idade Média, o pensamento político, social e financeiro não se separava necessariamente do pensamento religioso, e como esta relação complexa permitiu que uma ordem monástica, nascida com menos de 10 cavaleiros, se tornasse uma potência financeira independente da Igreja e dos reinos e, hoje, considerada o primeiro “banco internacional” da história.