O Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda

Rodrigo Bastos, FRC

Artur é o arquétipo do Rei Guerreiro. Para muitas pessoas ele é a única luz na obscura Idade Média britânica. A mera referência ao nome “Rei Artur” invoca imagens de duelos e cavaleiros, belas donzelas, magos misteriosos e atos traiçoeiros em castelos em ruínas. Mas o que está por trás destas ideias românticas essencialmente medievais? É certo que existe um Artur literário; existe, com efeito, todo um ciclo de histórias conhecidas como o Romance Arturiano. Também na literatura celta podemos encontrar uma personagem mitológica parecida com Artur. Mas e o Artur histórico? Existem provas de que as histórias de um grande rei britânico que liderou os seus compatriotas em ferozes batalhas contra os invasores saxões possam ser baseadas em fatos?

Resumidamente, os contornos do mito de Artur são estes: filho primogênito do rei Uther Pendragon, nascido na Grã-Bretanha durante uma época extremamente conturbada e caótica. O prudente mago Merlin aconselhou que a criança deveria ser educada num local secreto e que ninguém deveria saber a sua verdadeira identidade. Com a morte de Uther Pendragon, a Grã-Bretanha ficou sem rei. Por artes mágicas, Merlin havia enterrado uma espada num rochedo e nessa espada estava escrito em letras de ouro que aquele que conseguisse retirá-la seria o próximo e legitimo rei da Grã-Bretanha. Muitos tentaram o feito, mas ninguém teve êxito, até que Artur retirou a espada e foi coroado por Merlin. Depois de partir esta espada numa luta com o Rei Pellionere, Artur foi levado por Merlin a um lago onde uma mão misteriosa emergiu das águas e lhe entregou a famosa Excalibur. Com esta espada (que lhe foi oferecida pela Senhora do Lago), Artur tornou-se invencível em combate. Depois de se casar com Guinevere, cujo pai (em algumas versões da lenda) lhe ofereceu a Távola Redonda, Artur reuniu um grupo impressionante de cavaleiros à sua volta e estabeleceu a sua corte no Castelo de Camelot. Os Cavaleiros da Távola Redonda, como ficaram conhecidos, defenderam o povo da Grã-Bretanha contra dragões, gigantes e cavaleiros negros. Eles também procuraram um tesouro perdido: a taça utilizada por Cristo na última ceia, conhecida como Santo Graal.

Depois de inúmeras batalhas sangrentas contra invasores saxões, Artur liderou os Britânicos na grande vitória do Monte Badon, onde o avanço saxão foi finalmente interrompido. Entretanto, nem tudo estava bem, pois o heroico cavaleiro Lancelot tinha se apaixonado por Guinevere, a Rainha de Artur. A intriga sobre o casal acabou por ser conhecida e Guinevere foi condenada à morte, enquanto Lancelot foi banido. No entanto, Lancelot regressou para salvar a Rainha e levou-a para o seu castelo na França. Artur levou a cabo uma expedição militar para encontrar Lancelot. Enquanto esteve ausente, Mordred (filho de Artur e da sua meia-irmã, a bruxa Morgause, com quem dormira quando jovem sem saber quem ela era) tentou tomar o poder na Grã-Bretanha. Quando Artur regressou, pai e filho combateram em lados opostos em Camlann, onde Artur matou Mordred, embora sofrendo um ferimento mortal. O corpo de Artur foi colocado numa barca misteriosa que flutuou até a Ilha de Avalon, onde suas feridas foram saradas por três estranhas rainhas vestidas de negro. Pouco depois de saber da morte de Artur, Lancelot e Guinevere morreram de desgosto. Contudo, o corpo de Artur nunca foi encontrado e muitos dizem que ele jaz adormecido sob uma montanha, acompanhado por todos os seus cavaleiros, à espera de mais uma vez cavalgar para salvar a Grã-Bretanha.

Talvez existam provas arqueológicas que nos apontem o caminho para chegarmos ao Artur histórico. Os locais mais associados ao Rei Artur na literatura ficam todos na parte mais ocidental da Inglaterra – Tintangel, o local onde o rei nasceu; Camelot, o local das reuniões da Távola Redonda; e o alegado local onde está enterrado, em Glastonbury. Os túmulos do Rei Artur e da Rainha Guinevere haveriam sido supostamente descobertos pelos monges da Abadia de Glastonbury, em 1190 d.C. No entanto, alguns investigadores acreditam que a própria Glastonbury tinha ligações com Artur, sugerindo que a região à volta de Glastonbury Tor (um monte nas imediações da cidade moderna) pode ter sido a Ilha de Avalon, onde Artur foi acolhido depois de sofrer as feridas fatais na batalha de Camlann. Cadbury Castle, que fica apenas a dezenove quilômetros de Glastonbury, é um monte fortificado da Idade do Ferro que foi reocupado na Idade Média, sendo o local mais vezes identificado como Camelot. No séc. VI d.C. o forte foi convertido numa vasta cidadela, com enormes muralhas defensivas, e a partir dos achados feitos no local, como jarros de vinho importados do Mediterrâneo, é de crer que este lugar foi o trono de um governante importante e influente da Idade Média. Poderia ter sido este o Rei Artur?

Pintura de Évrard d’Espinques (c. 1475) representando os Cavaleiros da Távola Redonda tendo uma visão do Santo Graal

Tendo em conta as provas arqueológicas e textuais, a teoria mais provável é que Artur se trate de uma composição a partir de um ou mais destes chefes britânicos que defenderam a Grã-Bretanha dos invasores saxões, os quais foram fundidos com elementos da mitologia celta e dos romances medievais para darem forma ao Artur lendário que hoje conhecemos. Assim, em essência existiu uma base histórica para as tradições arturianas. O fato de a lenda ter sobrevivido tanto tempo é um testemunho de que o caráter de Artur toca num nervo da consciência humana, o qual dá resposta a uma necessidade enraizada de identificação não só com um herói, mas com um rei que simboliza o espírito do próprio território britânico.

* Fonte: adaptado pelo autor deste artigo com base em HAUGHTON, Brian. História Oculta.

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