Por Beatriz Philippi
Existe uma máxima que diz: “primeiro nós fazemos nossos hábitos, depois nossos hábitos nos fazem”.
Estudos da neurociência afirmam que nossas ações repetidas vão criando verdadeiras autoestradas por onde passam os impulsos que nos levam a agir. Quanto mais repetimos uma ação, mais larga e profunda é essa “estrada”. Neste sentido, a ciência vem apenas confirmar o que filósofos e místicos afirmam há muito tempo: quanto mais repetimos um comportamento, mais enraizado ele fica em nossa mente e mais difícil é de ser abandonado.
Na verdade, desde que nascemos começamos a adquirir padrões de comportamento que vão se integrando à nossa personalidade e que acabam tendo impactos positivos ou negativos em nossa vida. Por exemplo, se desde cedo adquirirmos o hábito de comer alimentos saudáveis, teremos mais saúde e uma vida mais produtiva no futuro. Hábitos ruins, comumente chamado de vícios, mas que nas suas foram mais graves se transformam em doenças, como fumar e beber bebidas alcoólicas, podem nos causar sérios prejuízos físicos, emocionais e sociais. O bom dessa história é que, apesar de difícil, os maus hábitos podem ser mudados.
Quando os hábitos vigoram em uma comunidade e se tornam parte da maneira de viver, se transformando em códigos morais daquela comunidade, falamos em costumes. Um filósofo que muito falou em como somos conduzidos em nossas vidas pelos costumes da época e do local em que vivemos foi Michael de Montaigne. Montaigne fez um alerta ao dizer que somos escravos de costumes, hábitos e opiniões que circulam entre nós e aos quais aderimos por meio da educação, dos ensinamentos dados por nossos pais ou por meio do grupo social com o qual partilhamos nossa vida. Ele estabeleceu uma relação entre o grupo social e familiar ao qual pertencemos e o condicionamento que estamos submetidos desde que nascemos. Segundo o filósofo, estes hábitos e costumes escravizam-nos, dominando e condicionando nosso livre exame de outros povos e culturas.
Na OGG, o jovem é convidado a estar atento ao comportamento diário e como se conduz na vida. Esta auto-observação é muito importante para que você possa perceber quando está começando a adquirir algum hábito prejudicial e também quando começa a ter um comportamento que não é eticamente correto, mas influenciado pelo grupo do qual faz parte.
O perigo do costume é que nossa consciência nos alerta nas primeiras vezes que fazemos algo errado, mas com a repetição, a consciência silencia e passamos a ter o errado como certo. Por exemplo, o jovem que tem um preconceito qualquer com certeza não nasceu com ele, pois todas as crianças aceitam as diferenças sem nenhum pré-julgamento. Entretanto, dentro da comunidade em que vive, na família, na escola, no clube etc., pode ter ouvido algo depreciando alguma raça, cor ou religião. No início, a criança pode até ter argumentado que não concordava, mas depois de ouvir repetidas vezes um adulto afirmar aquele erro, começa a acreditar que aquilo é uma verdade e não questiona mais o assunto.
Quando cresce, de vez em quando a consciência dá um alerta e ele volta a pensar no assunto e a questionar se o que faz ou acredita está certo – mas aquele sulco que a neurociência detectou no cérebro e que também está na nossa mente mais profunda, agora é difícil de ser novamente aplainado, pois para alterar um hábito é preciso modificar esses padrões.
Nossos ensinamentos nos dizem que a melhor forma de combater um mau hábito é cultivando o seu contrário. Sendo assim, se sou um crítico ferrenho do comportamento dos outros, devo cultivar o costume de elogiar. Se sou preconceituoso com relação a alguém diferente, preciso cultivar o gosto pela diversidade e assim por diante.
E já que desafazer maus hábitos é uma tarefa difícil, o melhor é procurar não deixar que uma ação negativa se transforme em hábito. E é isto que o convidamos a fazer.